O jornalismo perdeu um W
Era canónico, qualquer peça jornalística tinha 5 W: Who, What, When, Where e Why.
Hoje, na conferência “Pensar o futuro – um Estado para a sociedade”, aparentemente uma organização para-governamental, caiu um W, o de Who.
De acordo com a organizadora, Sofia Galvão, a cobertura jornalística do evento seria restrita aos discursos de abertura e de encerramento. Todo o resto era suposto decorrer em "off-the record". “A permanência de jornalistas na sala pode manter-se, mas não haverá citações de nada que aqui seja dito sem expressa autorização dos citados”, disse Sofia Galvão.
Esta regra não é mais do que a internacionalmente usada "Chatham House Rule", com esta simples definição:
When a meeting, or part thereof, is held under the Chatham House Rule, participants are free to use the information received, but neither the identity nor the affiliation of the speaker(s), nor that of any other participant, may be revealed.
Tem na sua origem num think-tank britânico de assuntos internacionais e visa dar liberdade de discussão aos seus participantes, sem os ligar às suas funções profissionais e políticas, tornando asim o debate mais sincero e descomprometido.
A própria Chatham House tem no seu site um espaço dedicado aos jornalistas e às regras da cobertura mediática. Que depende até, em última instância, da vontade dos participantes em serem citados, e permite entrevistas "à margem" dos eventos, que é aliás a prática comum em qualquer conferência neste país.
Parece-me portanto uma prática aceitável.
Então porque é que gerou esta polémica junto dos meios de comunicação, que na generalidade se retiraram da conferência e que culminou, ao fim da tarde, com um comunicado violento do Sindicato de Jornalistas?
Com os dados de que tenho posse, concluo:
- Os jornalistas portugueses nunca ouviram falar da Chatham House Rule
- Alguém na organização (talvez a própria Sofia Galvão) a conhecia mas só se lembrou em cima do acontecimento
- A Conferência foi mal anunciada como uma "conversa aberta da sociedade civil"
Foi mais um mau momento de péssima gestão da comunicação, uma inadaptação e impreparação face aos acontecimentos, uma réplica saloia e atabalhoada de uma regra civilizada que, convenientemente explicada, poderia ter sido perfeitamente aceite e bem aproveitada tanto pela organização como pela comunicação social.
Mais uma oportunidade perdida de se poder discutir ideias em Portugal.