SOBRE A CRISE NOS ORGÃOS DE COMUNICAÇÃO

Eu julgava que um orgão de comunicação tinha que se esforçar por ter audiência - por comunicar. Julgava - mas na realidade não tenho nada a certeza que este pensamento hoje em dia seja muito popular. Quando se perdem audiências, perdem-se receitas, sejam as de venda de exemplares, no caso de jornais ou revistas, ou de publicidade nos meios em geral. O que é certo é que o objectivo é conseguir comunicar e isso só se consegue criando uma base sólida, e em constante alargamento, de leitores, ouvintes ou espectadores.

 

Retomando o tema, quando se perdem receitas compromete-se a viabilidade do orgão de comunicação e começam a criar-se condições de dependência. Nos últimos anos criou-se a ilusão - nas empresas de comunicação como no país em geral - que a dívida podia sempre aumentar e que no fim alguém havia de pagar. Pois então temos agora pela frente as más notícias: as dívidas chegaram a um ponto em que comprometem a existência de alguns orgãos de comunicação - que fazem despedimentos, reduzem colaborações e interrompem suplementos.

 

Tenho muita pena de afirmar que aqueles que são responsáveis poelos conteúdos são tão responsáveis pelas dificuldades financeiras como os prorietários e administrações que abdicaram de gerir as suas empresas e exigir que as redacções olhassem menos para o umbigo e para os temas de que gostam, e mais para o exterior, procurando os temas que os seus públicos gostariam de encontrar. 

 

Para conseguir audiência é preciso ter conteúdos que interessem aos públicos de cada orgão e que não se limitem a reproduzir o que já se viu em todo o lado. Numa época em que o twitter dá instataneamente notícias dos grandes acontecimentos, o que conta é a capacidade de proporcionar uma informação diferente. Ninguém paga para ler ou ouvir ou ver o que já sabe - e que ainda por cima pode encontrar de forma gratuita.

 

Ao longo dos anos os jornais portugueses ditos de referência, na esmagadora maioria dos casos, desinvestiram da informação local e regional, deseinvestiram dos problemas das pessoas e passaram a preocuparem-se apenas com as notícias da macro-política e da macro-economia. Reduziram, à excepção dos momentos de catástrofe, o país a S.Bento. O resultado está à vista e a procissão - de encerramentos, dispensas e despedimentos ainda vai no adro.

 

Com um mercado publicitário em recessão absoluta (e continuada desde há anos), a perseverança na atitude de alargar públicos e a prática de os estreitar cada vez mais não podia ter bom resultado.

 

Custa-me imenso dizer isto, mas estamos a assistir a um desastre anunciado que só pode surpreender quem não quis ver. 

 

Tenho infelizmente a experiência de como é fácil perder leitores e como é tão difícil reganhá-los e aumentá-los. Quem os tinha e os perdeu deve pensar nas suas responsabilidade e, talvez, ter mais vontade de perceber como se deve comunicar para mais gente, em vez de comunicar para os do costume. Porque os do costume não levam a lugar algum.

publicado por falcao às 18:25 | link deste post