Um disco bizarro e irresistível
Bill Frisell é um guitarrista norte-americano de 60 anos com uma longa carreira no "jazz". Vinicius Cantuária é um músico e cantor brasileiro, também com 60 anos, com longa carreira mas pouco conhecido entre nós.
Juntaram-se para fazer "Lágrimas Mexicanas", um disco inesperado e irresistível, onde o calor e ritmo tropicais transmitidos por Vinicius Cantuária se conjugam na perfeição com as sonoridades oriundas dos "blues", do "jazz" e do "country" da guitarra de Bill Frisell. Aqui e ali há aromas de outros ritmos, como no "Cafezinho", a atirar para o "rockabilly" ou o "pop" de "Lágrimas de Amor" ou, ainda, as referências a Scott Joplin em "Briga de Namorados".
A faixa que dá o nome ao álbum, "Lágrimas Mexicanas" , que aqui mostramos, é uma explosão de ritmos e de energia, e, finalmente, "Calle 7" é a melhor síntese do que ambos conseguiram, uma evocação de um passeio na Sétima Avenida numa mistura de culturas que é a essência da Nova Iorque.
Este dueto é deliciosamente bizarro porque está baseado naquilo que pode tornar um dueto uma coisa séria: a sintonia entre os dois músicos que conseguem combinar a criatividade de cada um de forma natural. Vinicius Cantuária tem estabelecido uma reputação sólida como um dos grandes herdeiros do tropicalismo e tem enveredado por um experimentalismo que nunca abandona as referências populares, mas que aproveita tudo o que pode ser feito com a sua guitarra, voz e percussão e Bill Frisell é um dos magos da guitarra, acústica e eléctrica, e que crescentemente recorre à electrónica para trabalhar as sonoridades e acentuar a improvisação.
É certo que a forma como Vinicius Cantuária canta é irresistível, mas neste disco a qualidade da execução instrumental, a sua riqueza e variedade, é verdadeiramente invulgar. E muito melhor que a maior parte das brasileiradas da moda que por aí aparecem. CD Naive, via Amazon.