Sobre a publicidade

 

Esta é a imagem do tal texto escrito por Manuel Alegre para a campanha publicitária do BPP, veiculada em exclusivo na revista do «Expresso». A campanha foi concebida pela BBDO e é uma boa campanha de publicidade. Explora, e bem, o conceito de «endorsement», ou seja, procura associar personalidades públicas e com notoriedade à imagem do cliente da agência, neste caso o BPP.

 

Durante anos esta dupla página de publicidade estava logo no início da revista e o conceito era sempre o mesmo: um texto de alguém conhecido, a falar da sua relação com o dinheiro, cada texto devidamente assinado e num grafismo que claramente indicava que se tratava de espaço publicitário do Banco Privado Português.

 

Eram páginas de publicidade, compradas como páginas de publicidade e assumidas pela revista como páginas de publicidade ao Banco. Qualquer pessoa que lesse a revista o compreendia - não é preciso ser especialista para perceber que se tratava de uma campanha publicitária.

 

A imagem acima é, aliás, elucidativa. Cá está o texto de Manuel Alegre, em que ele elogia a luxuosa marca de espingardas Purdey e em que discorre sobre a relação com o dinheiro. O texto termina com um fac-simile da sua assinatura, logo por cima do logotipo do Banco Privado Português.

 

Nas notas laterais, à esquerda e à direita, o texto, da autoria da agência publicitária, procura relacionar a actividade do banco com o que o autor convidado escreveu e transmite aos leitores o que entende serem as vantagens do BPP a tratar do dinheiro dos seus clientes. (O que mais tarde aconteceu é outro assunto).

 

Não se trata pois de uma página patrocinada como alguns líricos agora procuram justificar-se. É publicidade clara, assumida, transparente. Grafismo elegante, posicionamento certeiro. Uma campanha inteligente, na qual participaram dezenas de personalidades que, como várias já hoje reconheceram, foram convidados pela agência publicitária e sabiam bem que se tratava de um texto para páginas de publicidade.

 

Os autores convidados tinham todos os dados para compreender que estavam a fazer um endosso à imagem do Banco - essa era aliás a ideia chave de toda a campanha.

 

O blogue 31 da Armada escreve sobre este assunto, a propósito dos esclarecimentos de Manuel Alegre, num post intitulado «Ups, a Purdey fez ricohete»:

 

«Pelos vistos, a explicação "oficial", que já vem de 2008, é a seguinte: a BBDO, agência de publicidade, pediu a Manuel Alegre um texto sobre a sua relação com o dinheiro. Alegre, um bonacheirão solícito, lá escreveu e entregou o dito, sem perguntar para que efeito os senhores da BBDO, agência de publicidade - de publicidade - o queriam. Quando mais tarde abriu uma revista e viu o texto, acompanhado da sua assinatura e caricatura, alojados numa publicidade ao BPP, pensou "ai, os malandros" e toca a ligar-lhes para suspenderem essa sua surpreendente participação sem aviso prévio.

 

Que dizer deste arremedo de justificação? Desde logo, que deve ser dada a Manuel Alegre a oportunidade de, digamos, aperfeiçoar a coisa. É que se esta explicação é para manter, então o candidato é um caso sério de charlatanice. Quer Alegre convencer-nos de que a BBDO, provavelmente a agência de publicidade mais conhecida do mundo, lhe pediu e pagou para que escrevesse um texto sobre dinheiro sem lhe especificar qual o destino do mesmo? Quer Alegre convencer-nos de que a BBDO lhe pediu e pagou um texto sobre dinheiro sem que aquele indagasse qual o fim do pedido? Quer Alegre convencer-nos de que a maior agência de publicidade do mundo lhe pediu e pagou um texto sobre dinheiro e o autor nem sequer suspeitou de que o texto serviria seguramente para uma campanha publicitária, provavelmente de um banco?».

 

 

publicado por falcao às 12:57 | link deste post | comentar